Rede social ou social media? Na semana passada, o Facebook protagonizou mais uma polêmica referente à sua política de censura de imagens. A rede social removeu, diversas vezes, a icônica foto da garota Kim Phuc, na Guerra do Vietnam, correndo nua após um ataque americano com napalm ao vilarejo de Trang Bang.
A partir daí voltou à cena o debate em relação ao fato de o Facebook não se ver como uma empresa de mídia.
Tudo começou quando um editor do jornal norueguês Aftenposten publicou a foto em seu perfil, que logo foi deletada pela rede social. Em uma segunda tentativa, o editor publicou a foto, agora acompanhada de um testemunho da própria Phuc, o que resultou no cancelamento de sua conta.
O editor chefe do jornal, Espen Egil Hansen, publicou, então, uma carta aberta endereçada a Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, criticando ferozmente a censura imposta pela rede social que é “desprovida de bom senso e fechada para discussão sobre qualquer decisão tomada”. Hansen descreve, ainda, Zuckerberg como o “editor mais poderoso do mundo” e é este ponto que tem sido levantado por profissionais de comunicação de todo o mundo: o Facebook deixou de ser apenas uma rede social onde compartilhamos fotos com amigos e familiares e é hoje, talvez, uma das mais poderosas ferramentas de comunicação da atualidade. Sendo assim não seria positivo que a rede social filtre imagens violentas ou perturbadoras?
O CEO da News Corporation, Rupert Murdoch, causou espanto há mais de 10 anos quando declarou que o Google era um “parasita da informação”, por não produzir uma vírgula sequer. A News Corporation é dona de vários jornais e revistas em todo o mundo, entre as publicações encontram-se o The Times, de Londres e o New York Post.
Afinal, o Facebook é “social media” ou “rede social”?
Em um evento na Universidade de Luiss, em Roma, Zuckerberg respondeu a um estudante que o Facebook é uma empresa de tecnologia e que “não se tornará uma empresa de mídia. Produzimos ferramentas, não criamos nenhum tipo de conteúdo”, disse.
No Brasil, historicamente a atividade de empresa jornalística é regulada pela constituição federal, nas leis (221 e 222, Capítulo V, artigos 220 a 224). Há uma série de regras: as empresas jornalísticas e de radiodifusão têm de ser controladas por brasileiros natos (ou naturalizados há mais de 10 anos), com pelo menos 70% do capital total, é permitida a participação acionária de empresas estrangeiras (em até 1/3 do capital) e devem observar uma série de princípios regulados pela lei 221.
Por trás desta discussão há uma perspectiva positiva. Após esta polêmica, é natural que os usuários da Internet procurem assinar serviços jornalísticos confiáveis. A atividade jornalística é essencialmente industrial, envolve uma série de profissionais que estão em diversos locais (no Congresso Nacional, em Brasília, nas cidades brasileiras, e de Nova York a Tóquio) que enviam seus relatos a outros profissionais baseados em redações, cujo trabalho reside justamente em filtrar o que é relevante ou não. A velocidade com que este processo ocorre infelizmente resulta muitas vezes em erros.
Algumas redes, conseguem agregar diversos fornecedores de conteúdo jornalístico. O Twitter, por exemplo, tem sido utilizado como um grande índice de notícias, uma vez que é possível reunir diversos títulos destas empresas. Mas é bom não confundir. As máquinas – os algoritmos – podem ser boas para agregar. Mas não são boas para fazer a curadoria. Quem faz isso bem, ou pelo menos com um mínimo de profissionalismo, você já sabe.