Você gosta dos posts do Caramelo? Caramelo é um cachorrinho fofinho e malandro que pulula nas redes sociais. Ele fala pra caramba e responde sempre com piadas infames. Detalhe: o Caramelo é um influenciador digital, uma criação de IA. Será que estamos a ver o fim dos influenciadores?
Pois é. As marcas começam a explorar um território que pode redefinir o marketing digital: os influenciadores virtuais criados por inteligência artificial. Diferente dos humanos, esses avatares não sofrem crises de reputação, não adoecem, não envelhecem e podem ser programados para atuar em qualquer cenário, falando diversos idiomas.
Para as empresas, o apelo é claríssimo: controle total da narrativa e custos reduzidos em comparação a contratos com celebridades ou microinfluenciadores.
O movimento conquista espaço em setores como moda e tecnologia. No Instagram, perfis de modelos digitais acumulam milhões de seguidores e atraem contratos com marcas globais.
No Brasil, agências de publicidade começam a oferecer porta-vozes virtuais sob medida para campanhas, ampliando a tendência. Essa prática, no entanto, ameaça o sustento de milhares de criadores de conteúdo que dependem dos publiposts para viver. A promessa de eficiência esbarra em uma questão sensível: a autenticidade, atributo valorizado por consumidores nas redes sociais.
O fim dos influenciadores: questão ética
O avanço é polêmico. A presença de avatares pode minar a confiança do público, já que a proximidade e a humanidade são fatores essenciais no relacionamento entre marcas e audiência. Por outro lado, a substituição pode ser uma evolução inevitável: em um ambiente saturado de informações, apenas personagens perfeitos, programáveis e infinitamente adaptáveis terão espaço para capturar a atenção de algoritmos e usuários.
A discussão vai além da eficiência ou da economia. É uma questão ética: até que ponto é aceitável influenciar consumidores por meio de personagens que não existem? Se o marketing de influência nasceu da espontaneidade e da credibilidade individual, a transição para influenciadores artificiais coloca em xeque a própria essência desse modelo de comunicação. Nesta hora, o ambiente da Internet virou pura publicidade com cachorrinhos, ursinhos e cavalinhos falantes.
O futuro aponta para um dilema estratégico. Marcas terão de decidir se priorizam o controle absoluto oferecido pelos avatares ou a autenticidade proporcionada por vozes humanas. Essa escolha pode definir não apenas o rumo do marketing digital, mas também o modo como os consumidores compreenderão a noção de verdade e transparência nas interações online.

