Hoje abordaremos a reputação política. Alguns políticos constroem a própria reputação com precisão cirúrgica. Em vez de abordarem muitos temas ao mesmo tempo, escolhem uma bandeira específica e a defendem com intensidade até se tornarem sinônimos dela.
O recurso funciona porque a repetição cria associação direta na mente do eleitor: ao ouvir uma palavra, ele automaticamente liga o político ao conceito. Foi assim com Jânio Quadros e sua famosa “vassoura”, símbolo de uma cruzada contra a corrupção e a incompetência dos políticos tradicionais.
A mesma estratégia impulsionou Fernando Collor de Mello, que se apresentou como o “caçador de marajás” ao prometer eliminar privilégios e combater o excesso de gastos do funcionalismo público. Lula e Bolsonaro – e todos os outros presidentes – também adotaram estratégicas de posicionamento da sua reputação.
O rótulo o transformou, pelo menos antes das eleições, em herói popular em um Brasil cansado de escândalos e desigualdades.
Em ambos os casos, a construção da reputação política ocorreu por meio de mensagens simples, facilmente memorizáveis e emocionalmente potentes, capazes de condensar ideologias complexas em imagens claras.
Poder eleitoral da reputação política
Esse tipo de narrativa tem enorme poder eleitoral porque responde a desejos profundos do público, como justiça, honestidade e renovação. Ao oferecer um inimigo comum — a corrupção, os marajás, o “sistema” — o político cria um elo direto com a frustração do eleitorado e se posiciona como agente da mudança.
A reputação, então, é uma extensão de sua imagem e de seu discurso, sustentada por símbolos e frases de efeito.
E há casos em que a reputação política ultrapassa o indivíduo: alguns políticos “emprestam” seu nome, imagem e legado a aliados, familiares ou candidatos apadrinhados. Trata-se claramente numa tentativa de transferir prestígio e credibilidade a outros projetos políticos.
Essa estratégia mantem grupos no poder por gerações, mas também pode arrastar novos nomes para o fracasso se a reputação original se manchar por escândalos ou contradições.
Mas esse capital simbólico se mostra frágil. Um único deslize pode desmontar anos de construção narrativa e destruir a confiança conquistada. Jânio renunciou de forma abrupta e Collor terminou deposto por impeachment, ambos incapazes de sustentar as expectativas criadas.
A lição é clara: reputação política nasce de estratégias bem pensadas e repetidas, mas sobrevive apenas se for sustentada por coerência e credibilidade ao longo do tempo.

